Quando penso no que é ser criança todo eu sou um grande sorriso, porque foi uma fase da minha vida que me traz recordações maravilhosas e infindáveis. Ser criança é ser feliz, brincar, ser enérgico, ter poucas responsabilidades e ter uns pais que proporcionam um crescimento harmonioso, estruturante e inesquecível. Tive tudo isto e também fui extremamente rebelde, e foi essa rebeldia que me construiu como adulto, com muita queda, muito arranhão, muito riso, algum choro, com resultados escolares sofríveis, mas com uma felicidade invejável. O meu ídolo era o Tom Sawyer e o meu passatempo preferido era andar no meu bairro solto, à minha vontade, a andar de bicicleta, jogar futebol na estrada ou no campo de futebol do bairro, andar de carro de guias, trepar árvores, tomar banho em tanques de rega e andar à luta com os meus amigos. Tenho consciência de que muito do que fiz agora é socialmente reprovável, mas foram estas vivências que fazem de mim o que sou hoje, com muitas experiências e competências adquiridas por ter sido uma criança que cresci a brincar, a fazer asneiras, a construir muitos dos nossos brinquedos e a andar para todo lado com os meus amigos, “a malta lá do bairro”. Lembro-me de trocar o açúcar por sal aos meus pais e avós e da cara que eles faziam, amarrar um barbante numa nota à porta de entrada do café para puxar quando alguém tentasse pegar na nota, colar um papel nas costas de um colega ou de um adulto a dizer: dá-me um pontapé, ou dá-me um beijo. Comprar uma mosca de plástico e colocar no prato da comida de alguém, colocar palitos nas campainhas e fugir, pintar os alhos da vizinha e muitas outras patifarias que estão no meu curriculum e que me orgulho de ter passado por elas.

Hoje em dia as ruas e os bairros estão vazios de crianças, não é que não existam, mas porque são “proibidas” de andar sozinhas na rua, porque os pais que tal como eu, têm um grande orgulho da sua infância e não a tocariam por nada, não dão o mesmo grau de liberdade aos seus filhos. Hoje não se ouve o melhor ruido do mundo, que são as crianças a brincar, porque estão fechadas em casa, e tudo se resume ao ruído dos veículos motorizados que se tornaram os donos das ruas do nosso país. As crianças estão fechadas em casa a jogar no tablet, no computador ou na consola e as conversas de hoje são à volta do materialismo, do Facebook do Tik Tok, da NetFlix e do Instagram.

Será que as crianças estão mais protegidas do que estavam no nosso tempo?

Existem grandes diferenças, com vantagens e desvantagens perfeitamente visíveis e que não deixam dúvidas de que temos gerações completamente distintas das que tínhamos à três, quatro, cinco décadas atrás e que têm uma visão da vida completamente diferente das nossas e que quando nós os “cotas” tentamos dialogar sobre as nossas vivências, deparamo-nos com alguém que não tem a mínima noção de como se era criança antigamente e que tão pouco se vêm a viver sem o “ar que respiram”, as novas tecnologias. As crianças de hoje vivem à distância de um click da informação que necessitam e do conhecimento, podem fazer chamadas de vídeo e comunicar com quem está perto e com quem está a milhares de quilómetros de distância, compram o que pretendem com mais facilidade, porque ambos os pais trabalham e disfrutam mais do pai porque cuidar dos filhos não é uma tarefa exclusivamente da mãe. São mais materialistas, são menos empáticas e carecem de muitas competências sociais, têm uma alimentação muito menos saudável, estão expostas a conteúdos impróprios para crianças, são analfabetos motores, portadores de variados problemas emocionais, com psicopatologias cognitivas, sedentarismo e outras complicações derivadas ao demasiado tempo que estão parados, sem brincar e fechados em quatro paredes. No meu ponto de vista ser criança hoje é mais difícil, porque têm muito menos liberdade, mais regras, mais responsabilidade, um ritmo de vida muito agitado e menos tempo para serem crianças de verdade.

Estou consciente de que os nossos filhos podem ser muitos mais felizes, se estiverem menos horas em contacto com as novas tecnologias, se estiverem mais tempo com os pais, e com outras crianças a brincar, tocar instrumentos, cantar, dançar, fazer atividades ao ar livre ou em contacto com a natureza para se tornarem mais criativos, mais sociáveis e com competências estruturantes para a vida.


Mario Fortes

Mario Fortes

Neste momento tenho um projeto intitulado KidsTalentum onde brinco e trabalho competências sociais e emocionais com crianças, na natureza. Tenho programas de investigação com Recursos Humanos, sou investigador de Pós Doutoramento na ARDITI, e Professor Coordenador convidado na Universidade da Madeira.

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