Podemos observar que a grande maioria dos mamíferos passa o seu tempo a brincar, sendo os primatas os que mais absorvem o seu tempo em brincadeiras. Entre os humanos o brincar é muito frequente, tanto que podemos caracterizar o brincar como uma característica definidora e universal da infância.

A definição do brincar é muito controversa nos meios académicos e com alterações significativas de investigador para investigador, Burghardt (2005) defende que a brincadeira realizada por todas as espécies é caracterizada pelos altos níveis de atividade e padrões comportamentais usados em contextos funcionais reais, mas desvinculados da sua motivação original.

Gray (2009) defende a existência de cinco características definidoras do brincar associadas e primordialmente importantes para o desenvolvimento da espécie humana, sendo elas a atividade autoescolhida e autodirecionada, a motivação, regras mentais, a imaginação e a produção de atividades de alerta não stressantes.

O brincar entre os mamíferos é caracterizada por grandes gastos de energia e por exposição a potenciais riscos, ataque de predadores, quedas, ferimentos, o que intriga os investigadores chegando ao ponto de o considerarem supérfluo, não possuindo ganhos imediatos aparentes, mas que perdura em tantas e tantas espécies mesmo com o risco que apresenta.

Deve ter uma função de adaptação ou um benefício que sobreponha o seu custo, senão já teria sido eliminado pela forças da seleção natural (La freniere, 2011; Pellegrini, 2010) .

É fundamental investigar a sua filogénese, a busca dos porquês do seu comportamento, ter sido selecionado e como chegou às formas e às funções de hoje.

Alguns autores advogam que o brincar traz benefícios imediatos que são importantes para toda a vida do indivíduo, tem alterações consideráveis no desenvolvimento ósseo, muscular, cardiovascular, incute o hábito do exercício físico, ajudando a combater a obesidade e a melhorar o domínio de competência e autoeficácia (La Freniere, 2011).

Interfere, também, na preparação para o inesperado, lidar com eventos súbitos como quedas, perda de equilíbrio e lidar emocionalmente com situações stressantes e inesperadas (Spinka, newberry & bekoff, 2001), tornando as crianças mais flexíveis, versáteis, criativas e capazes de lidar produtivamente com o novo o inesperado, são as principais funções imediatas reconhecidas do brincar.

O brincar é uma adaptação ontogenética, ou seja, um sistema comportamental que melhora a adaptação do indivíduo nos estágios imaturos da vida perdendo o seu significado na idade adulta. Esta hipótese foi apoiada na seleção natural, que atua em todos os períodos do desenvolvimento não só na maturidade.

Byers e Walker (1995) constatam que em quase todas as espécies estudadas o gráfico para a brincadeiras parecia um U invertido, aumentando durante o período juvenil e daí caindo por volta da puberdade, o período depois do qual a maioria não brinca muito. Para este autor o ato de brincar pode estar relacionado ao crescimento do cerebelo, desde que os dois atinjam o pico mais ou menos ao mesmo tempo. Parece haver um período sensível no crescimento do cérebro, no qual o tempo é importante para que o animal seja estimulado com brincadeiras para obter a sua configuração final.

Conclusão sobre a Perspetiva evolucionista sobre o brincar

Para concluir defendemos que o brincar fortalece as habilidades motoras, cognitivas e sociais, é afetada pelo ambiente, seja nas circunstâncias físicas circundantes, seja nos parceiros sociais disponíveis nos relacionamentos construídos, no tempo e nos elementos culturais que contribuem para a construção dos indivíduos.

Os indivíduos que brincam diariamente na sua infância produzem defesas e características ímpares no seu desenvolvimento, motor, cognitivo e emocional que os torna mais adaptados ao meio e com mais defesas e competências adquiridas o que aumenta a probabilidade de sobrevivência e sucesso reprodutor aumentando assim a fitness.

Bibliografia

  • Byers A (1998) Biological effects of locomotor paly. Getting into shape or someting more specific? Evolutionary comparative, and ecological perspectives ( pp 205-220) Cambridge: Cambridge University
  • Burghardt, G. M. (2005). The genesis of animal play: Testing the limits. MIT Press.
  • Gray, Peter. 2009. Play as a foundation for hunter-gatherer social existence. American Journal of Play 1:476–522.
  • LaFreniere, Peter. 2011. American Journal of Play , v3 n4 p464-488.
  • Spinka, newberry & bekoff.2001. Mammalian Play: Training for the Unexpected. The quarterly review of biology, 76.

Mario Fortes

Mario Fortes

Neste momento tenho um projeto intitulado KidsTalentum onde brinco e trabalho competências sociais e emocionais com crianças, na natureza. Tenho programas de investigação com Recursos Humanos, sou investigador de Pós Doutoramento na ARDITI, e Professor Coordenador convidado na Universidade da Madeira.

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