Sei que muitos estão cansados de me ouvir dizer que “não faz sentido que as crianças dos infantários e do pré-escolar estejam diariamente “incubadas” em quatro paredes em edifícios fechados quando vivemos no país com melhor clima na europa”. Questiono isto em conferências, seminários e congressos e em conversas de café e todos dizem que tenho razão, mas nada se faz. Acrescento, também, que há mais de quinze anos que tenho conhecimento de que nos países do norte da europa as crianças destas idades passam os seus dias na rua, na floresta em contacto com a natureza, muitas vezes de baixo de temperaturas negativas, à chuva e à neve e aqui todos estão fechados em quatro paredes a fazer atividades repetitivas, monitorizadas e muitas vezes de preparação para a entrada no primeiro ciclo, contendo conteúdos programáticos de língua portuguesa e matemática.
As crianças têm de ser livres e andar em contacto com a natureza porque adquirem competências estruturantes para toda a vida através do brincar e do ludismo.
Está provado cientificamente que nas catástrofes aparecem muitas oportunidades e cabe-nos a nós analisar o que podemos alterar para melhorarmos os nossos costumes e qualidade de vida.
Temos uma grande oportunidade para mudar, e mesmo os mais céticos observarem as mudanças que as crianças poderão ter num curto espaço de tempo em contacto com um ambiente muito mais seguro e natural, que é o espaço exterior.
Os terrenos irregulares, os muros, as árvores, o frio, a chuva e outras situações existentes, promovidas pela atividade ao ar livre e na natureza, vão proporcionar às crianças momentos em que de uma forma natural vão desenvolver capacidades motoras, coordenação, desenvolvimento de competências pessoais, sociais e emocionais, tais como (movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos, comunicação, trabalho em equipa, liderança, iniciativa, responsabilidade, tomada de decisão individual e em equipa, gestão de humor, resiliência, criatividade e empreendedorismo). Que são uma base estrutural importante para o seu desenvolvimento equilibrado e de sucesso.
Numa época em que a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) considera que as competências sociais e emocionais são essenciais para a vida dos seus cidadãos, e que os sistemas de educação dos estados membros deveriam apoiar o desenvolvimento destas competências essenciais por parte das crianças e jovens para exercerem uma cidadania ativa, para a inclusão social e para contribuir para uma vida mais bem sucedida na sociedade do conhecimento, bem como a Direção Nacional de Saúde a defender o ar livre como prevenção de pandemias transmissíveis pelo contacto e em espaços fechados. Por tudo isto, e pelos benefícios inquestionáveis do ar livre do brincar e do ludismo, temos mesmo de alterar o paradigma e revermos a forma de estar e ensinar nos infantários e pré-escolas em Portugal, através da criatividade de todos os intervenientes no processo educativo destas crianças e de exemplos existentes em Portugal e noutros países da europa e do mundo, onde temos espaços, metodologias e atividades que são inspiradores e transformadores no que diz respeito a esta forma de ensinar, podemos ter aqui uma oportunidade de mudar e de tornar as nossas crianças mais capacitadas e felizes.