O ensino em Portugal anda a reboque de acontecimentos e não o sinto com identidade própria, porque andamos há décadas para mudar, sabemos que já não faz sentido e tudo se arrasta com algumas mudanças, mas sem a necessária alteração de paradigma que tantos já demonstraram ser inevitável. Num mês fez-se mais pelo ensino do que em muitos anos que muito se teorizou, mas não se avançou.

Sou a favor do ensino à distância, das plataformas virtuais, das orientações dos professores dadas por teleconferência, mas com estratégia, planificação, formação e orientação para os intervenientes.
Os alunos estão preparados? Os professores têm conhecimento suficiente sobre as tecnologias e têm estratégias de ensino bem definidas? Os pais são professores em casa? O ensino em Portugal foi estruturado e preparado com tempo, com estratégia, com pedagogia e novas didáticas para tudo isto? Tudo isto deixa-me muitas dúvidas e “cheira-me” a um termo muito português que é o “desenrasca-te pá”. Como sou curioso e gosto de saber o significado das coisas, fui ao dicionário [1] e temos como significado de desenrascar “desembaraçar o que estava enrascado, resolver rapidamente, remediar e livrar de apuros”, parafraseando o saudoso Fernando Peça “e esta em…” qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência, não é não, esta é a realidade do que se está a passar com o ensino em Portugal.

Todos nós merecemos um pouco mais de cuidado quando se tomam decisões com as nossas vidas, os alunos saem de 8 a 9 horas diárias de uma escola, obrigados a adequar a sua curiosidade, criatividade, energia a um ensino expositivo, onde não podem expressar as suas frustrações e incompreensão relativamente ao paradoxo que vivem todos os dias quando saem de uma casa do século XXI e entram numa escola do século XIX, onde impera o quadro o giz e o professor a ditar as leis e onde o livro sabe tudo e agora estão confinados na casa do século XXI, com a grande maioria tendo as tecnologias ao seu dispor e onde os mesmos que sempre as criticaram agora fazem das tripas coração para entrarem numa zona de desconforto e ditarem regras que nem eles as dominam para ficarem de consciência tranquila e com o dever cumprido. Estes são os professores que também mereciam mais respeito, porque se estão a reinventar num mês com muitas dúvidas, muita poeira no ar e mais uma vez a ser obrigados a mostrar fragilidades naturais, porque muitos sem terem contacto com a aula virtual e com este mundo longínquo têm de ensinar a gerações nascidas na era das novas tecnologias.

E os pais agora têm de ser professores sem terem conhecimentos pedagógicos, didáticos e dos conteúdos dos programas escolares, envolvidos no teletrabalho, com o almoço e o jantar para fazer, muitas das vezes com filhos muito pequenos e muito dependentes são obrigados a entrar num grande alvoroço familiar para andarem pura e simplesmente a apagar fogos. Contudo, se o ministério da educação nada fizesse, claro que haveria vozes críticas.

Aula virtual em tempo de quarentena… Faz algum sentido?!

Pergunto eu? É assim tão grave alunos que não têm exames de acesso ao ensino superior para realizar ficarem sem um período de aulas durante uma carreira académica que no mínimo são doze anos? Não faz mais sentido poderem estar mais estáveis emocionalmente a realizar algumas tarefas escolares em casa sem terem obrigatoriedade de cumprir tarefas impensáveis para a realidade que têm em suas casas, e tudo isto ser mais um problema para famílias que têm já por si bastantes preocupações. Estamos a ser justos quando temos alunos com um contacto semanal com o professor e alunos que têm cinco ou mais horas de contacto diária com professores que não se cansam de enviar trabalho, pensando que estão a contribuir para a formação dos seus alunos.

Muito se fala na igualdade de oportunidades, e da telescola para que ninguém fique privado do ensino, mas para isso tínhamos de entrar em casa de todos os estudantes e saber em que situação se encontram para poderem estar em condições naturais para fazerem um acompanhamento de qualidade das matérias e programa que lhes estão ser propostos neste terceiro período.

Nem tudo foi mau neste processo, e tenho de exaltar a pronta reação e preocupação do ministério da educação em tentar resolver um problema que lhe caiu nos braço em pleno ano escolar e também me encontro esperançado que com a mesma rapidez com que efetuaram todo este processo, comecem a ver que existem outras formas , estratégias e metodologias de ensino e que a partir de agora se inicie uma reforma estrutural do ensino em Portugal, dotando os professores e os alunos de “ferramentas” adequadas à realidade dos tempos e ao século em que vivemos.


Mario Fortes

Mario Fortes

Neste momento tenho um projeto intitulado KidsTalentum onde brinco e trabalho competências sociais e emocionais com crianças, na natureza. Tenho programas de investigação com Recursos Humanos, sou investigador de Pós Doutoramento na ARDITI, e Professor Coordenador convidado na Universidade da Madeira.

EBOOK GRÁTIS

7 Passos Para Compreender O Seu Filho

"Compreender seu filho é uma das coisas mais importantes que você deve aprender." - Mário Fortes

 

Subscreva já à newsletter e receba grátis este pequeno ebook como oferta de boas vindas.

Obrigado, vai receber o ebook no seu e-mail!